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pacotes de batatas fritas que tinha encolhido no forno.
O pai de Mary, Noel Norman Dinkle,
trabalhava numa fábrica. Colava os fios nos sacos de chá.
No 'Mostra e Conta' (aula de dissertação), ela disse à turma
que ele podia trazer para casa à borla quantos sacos de chá quisesse.
O seu saco de chá favorito era o Earl Grey.
Ela adorava dizer "Earl Grey"
e um dia gostaria de se casar com um homem chamado Earl Grey.
Viveriam num castelo na Escócia,
teriam 9 bebés, 2 patos...
...e um cão chamado Kevin.
O passatempo de Noel era sentar-se no seu barracão, beber 'Baileys Irish Cream'
e embalsamar pássaros que encontrava na berma da auto-estrada.
Mary desejava que ele passasse mais tempo consigo e menos com os seus amigos mortos.
Ela também desejva ter alguns irmãos e irmãs.
A sua mãe disse-lhe que ela tinha sido um 'acidente'.
Como é que alguém pode ser um acidente?
O vovô Ralph tinha-lhe dito que os bebés eram propositados
e encontrados pelos pais no fundo das suas cervejas.
O vovô Ralph cheirava a cebolas de conserva
e tinha sido membro dos 'Quebra Gelo de Frankston' durante 51 anos.
Aaagh! Aaaaaghhh!
Eles nadavam no Inverno para se sentirem vivos.
O vovô Ralph tinha-le dito que fazia os seus mamilos ficarem crescidos.
Ele tinha morrido no ano anterior, com 74 anos,
e o seu melhr amigo, Ken, recitou um poema em sua honra.
Nascido num estábulo nas colinas de Boronia,
Ralph viveu uma vida longa,
depois morreu com 'pneumónia'.
Mary tinha saudades dele
e questionava-se muitas vezes porque teria ele bebido amónia.
Muitas coisas intrigavam Mary
especialmente a sua mãe, Vera Lorraine Dinkle.
Para Mary, Vera tinha tido sempre uma aparência oscilante.
Uma bola particularmente difícil. E ele está fora!
Vera gostava de ouvir relatos de cricket enquanto fazia bolos
e o seu principal ingrediente era sempre Xerez.
3/44. E Thompson 2/15...
Ela disse a Mary que era um tipo de chá para crescidos
que necessitava de ser provado constantemente.
Mesmo fora do alcance da liderança. 6/96 Inglaterra.
Mary achava que a sua mãe provava o Xerez... vezes demais.
Mary também na entendia o porquê de Vera estar sempre a "pedir emprestado".
Ontem, pediu emprestado uns douradinhos no corredor 6.
Ela disse a Mary que guardava as coisas no seu vestido para poupar sacos plásticos.
Vera era, sem dúvida, uma alma perturbada.
Oooh!
Mary parou de sonhar acordada
e foi tirar o seu galo de estimação da chuva.
O seu pai tinha encontrado o galo na berma da auto-estrada
depois de ter caído do camião do matadouro.
Ela batizou-o Ethel.
Estava na hora de ver "Os Noblets". Ela adorava "Os Noblets"
porque eram todos castanhos, viviam num bule
e tinham carradas de amigos.
Não havia nada melhor, Pensava Mary para si mesma,
que o cheiro de um galo molhado...
...o som da chuva no telhado
e o sabor de leite condensado açucarado directamente da lata
enquanto se assiste aos desenhos animados favoritos.
Entretanto, um homem chamado Max Horowitz também via "Os Noblets".
A televisão pequena de Max tinha imagem, mas não tinha som.
A sua televisão grande, tinha som, mas não tinha imagem.
Ele tinha 44 anos e gostava de "Os Noblets"
pois viviam numa estrutura social delineada e articulada
com uma conformidade de adesão contínua
e também porque tinham carradas de amigos.
Max tinha dificuldades para dormir
e tinha passado a noite a ver televisão e a apanhar comida de peixe.
Ele apercebeu-se que tinha sido a sexta mosca que apanhou nessa noite.
Pensou se deveria ir para a cama contar carneiros
ou comer mais um cachorro de chocolate.
Resoulveu tentar ambas, mas não resultou.
Tinham passado 6 horas e 12 minutos desde que Henry VIII tinha falecido.
E a morte de Henry atirou a vida de Max para o caos.
tornou-se assimétrica
e quanto mais depressa comprasse um novo peixe, melhor.
Amanhã iria à loja de animais e compraria um novo Henry -
Henry IX.
Próximo.
Era um dia de compras e
Mary estava sentada pacientemente enquanto a mãe "pedia emprestados" alguns envelopes.
Para passar o tempo, ela observava a sala
e contou quantas coisas eram castanhas.
havia fita autocolante, elásticos
e uma lista telefónica com uma imagem de uma senhora num lago castanho
com a mão em chamas.
Na América tinham nomes equisitos, pensou para si Mary Daisy Dinkle.
nomes com sonoridades engraçadas chamadas Rockefeller e Finkelstein.
Ela imaginou como seria o seu aspecto, que idade teriam
e se seriam casadas, usariam óculos, ou teriam achado bebés nas suas cervejas.
Se calhar nos EUA encontravam bebés noutro sítio.
Humm... Eles bebiam muita cola.
se calhar encontravam-nos em latas.
Mas não, eles não passariam pelo buraco.
Mary teve uma ideia.
Ela iria escrever a um dos Americanos e perguntaria de onde vinham os bebés.
Ela escolheu um Sr M. Horowitz.
Aarrgh, Sra Dinkle!
Volte aqui, Vera Dinkle! Você volte aqui!
Aaarghhhh!
Caro Sr M. Horowitz,
o meu nome é Mary Daisy Dinkle
e tenho 8 anos, 3 meses e 9 dias.
A minha cor favorita é o castanho
e a minha comida favorita é leite condensado açucarado
seguido, imediatmente, do chocolate.
Tenho um galo chamado Ethel que se parece com isto.
Ele não põe ovos, mas um dia porá.
A minha mãe gosta de fumar, de cricket e de Xerez
e o meu pai gosta de brincar, no seu barracão, com pássaros mortos.
De onde vêm os bebés na America?
Vêm de latas de cola?
Na Australia são achados em copos de cerveja.
Aqui estou eu desenhada.
Eu não consigo desenhar bem orelhas, mas sou boa em dentes.
Seria excelente se pudesse responder e ser meu amigo.
Sua com amizade, Mary Daisy Dinkle.
PS. Espero que goste do chocolate que também estou a enviar.
Chama-se Cherry Ripe.
Adeus, carta. Não te esqueças de escrever.
Max detestava Quintas-Feiras -
dia da sua reunião dos 'Super-comedores Anónimos'.
E esta noite ele sentia-se especialmente irrequieto
porque tinha comido dois cachorros de chocolate pelo caminho.
OK turma...
Ao comer chocolate quebrou as regras.
Ele achou a noite ainda mais insuportável
pelos estranhos olhares lançados por Marjorie Butterworth.
Terminou a aula.
Max tinha dificuldade na interpretação de linguagem não verbal.
Namoriscar era tão estranho para ele como o jogging.
Max sentia-se confundido pela maioria das pessoas.
Mas mal ele sabia
que a sua noite estava prestes a tornar-se ainda mais confusa e enigmática.
Humm.
Ele leu a carta de Mary 4 vezes e depois fez o que normalmente fazia
quando era confrontado com algo novo e angustiante.
A frágil existência de Max tinha-se, mais uma, vez tornado desconfortável.
E após ter passado 18 horas a olhar pela janela
ele finalmente tomou uma decisão.
Cara Mary Daisy Dinkle,
agradeço a carta, que abri e li às 21:17h
após a minha sessão nos 'Super-comedores Anónimos'.
Estou a tentar perder peso
Porque o meu psiquiatra, Dr. Bernard Hazelhof,
diz que um corpo saudável representa uma mente saudável.
Ooooh!
Ele diz que a minha mente não é lá muito saudável.
O teu desenho é uma descrição visual interessante de ti mesma.
Eu nunca conheci ninguém da Austrália.
Primeiro vou responder à tua questão.
Infelizmente, na América, os bebés não vêm em latas de cola.
Perguntei à minha mãe quando tinha quatro anos
e ela disse que vinham de ovos postos por coelhos.
Se não fores judeu, são postos por freiras católicas.
Se fores ateu, são postos por prostitutas, sujas e solitárias.
Portanto, é daí que vêm os bebés na América.
Eu partilho a minha casa com um peixe,
alguns caracóis, aos quais dei o nome de cientistas famosos...
...um piriquito chamado Sr Biscoito
e, finalmente, um gato chamado Hal.
"Hal" é uma abreviatura para halitose -, de que sofre.
Ele seguiu-me até casa depois de um bando de crianças
lhe ter dado um tiro no olho com uma espingarda de pressão de ar.
Tens um canguru de estimação?
Quando nasci, o meu pai abandonou-me, a mim e à minha mãe, num kibbutz.
Ela suicidou-se com a arma do meu tio quando eu tinha 6 anos.
Gostas de cachorros de chocolate?
Fui eu que inventei a receita e posso enviar-ta.
Quando era novo, inventei um amigo invisível chamado Sr Ravioli.
O meu psiquiatra diz que já não preciso dele,
portanto fica sentado num canto a ler.
Na semana passada recolhi 128 beatas de cigarros.
As pessoas estão sempre a fazer lixo em Nova York.
Não percebo porque é que as pessoas desrespeitam a lei.
As beatas são más porque vão dar ao mar
os peixes fumam-as e ficam dependentes da nicotina.
Estou só a brincar, claro, porque
é impossível manter um cigarro aceso debaixo de água.
Além disso, os peixes não têm bolsos para guardar isqueiros.
Tenho 44 anos de idade
e tenho 8 fatos de treino da mesma cor e tamanho.
Peso 159 Kg...
Ooooh!
...e sou tão alto como uma árvore de 1,80 m.
Bem vindo ao Totoloto de Nova York!
Gosto de jogar no Totoloto
e jogo a mesma chave há 9 anos.
Os números são 3... 1.
5... 4.
6... 25.
9... 2.
11... 7.
E 12. 8.
Você é um vencedor?
Ou um falhado?
Tive muitas profissões diferentes ao longo da vida.
O meu primeiro trabalho foi recolher os bilhetes do metro, no metro.
O meu segundo trabalho foi nos Produtos Kosher Gourmet da Yiddel
Onde operava a máquina que fazia kugels (espécie de empadão) pré-cozinhados.
Nasci Judeu e acreditava em Deus,
mas desde então li muitos livros
que provavam que Deus é só um produto da minha imaginação.
As pessoas gostam de acreditar em Deus porque dá resposta a perguntas complicadas
como: de onde veio o Universo,
as lagartas vão para o Céu?...
...e porque têm as velhotas cabelo azul?
Apesar de ser ateu,
ainda uso o meu yarmulke (kippah) porque mantém o meu cérebro aquecido.
O meu terceiro emprego foi numa empresa que imprimia logótipos em novidades.
Trabalhei na máquina que imprimia os discos voadores.
Um disco voador é um disco de plástico qua as pessoas atiram umas às outras.
É como um boomerang
mas não volta.
O meu quarto emprego foi quando fui chamado para ser jurado num julgamento.
Não me pagaram muito, mas tive café e biscoitos de graça.
Os jurados são membros excepcionais da comunidade
que não mataram ninguém.
Consegui chegar quase à lista final
para o julgamento de um homem que tinha morto todos os seus amigos
na sua própria festa-surpresa de aniversário.
Infelizmente não cheguei a ser seleccionado porque descobriram que,
em determinada altura, eu tinha sido doente mental.
Já fizeste Asa-Delta?
O meu quinto emprego foi como lixeiro.
Eu limpava o lixo deixado pelos porcalhões e não tinha de falar com ninguém.
Às vezes costumava fingir que era um robot intergaláctico.
Ligou para o 112. A sua chamada está em lista de espera.
Uma vez a polícia levou-me para interrogatório,
mas soltaram-me quando concluiram que eu não era ameaça para ninguém,
excepto para mim próprio.
O sexto emprego que tive foi para o exército dos Estados Unidos
no departamento de artigos de escritório.
Por ser bom com números,
tinha de calcular quantas esferográficas precisava o exército.
Um dia fizeram um controlo de segurança
e perguntaram se eu pertencia a algum grupo radical.
Disse-lhes que era membro do Clube de Fans de Ficção Científica de Nova York.
Disseram-me que isso não contava mas dispensaram-me na mesma.
Felizmente, não me lembrei de lhes dizer que, em tempos, fui comunista.
Já foste comunista?
Já foste atacada por um corvo ou outro animal de tamanho semelhante?
Quando tinha 9 anos, um corvo atacou-me a caminho da escola.
Tive que levar três pontos
e agora na Primavera uso um capacete no qual pintei uns olhos.
As pessoas riem-se de mim quando uso o capacete.
Não sei porquê.
As pessoas fazem-me confusão, mas tento que isso não me incomode.
Nova York é um sítio muito movimentado e barulhento.
Eu preferia viver num lugar mais sossegado,
tipo a Lua.
Não gosto de multidões, luzes brilhantes, ruídos repentinos ou cheiros fortes.
Nova York tem tudo isto,
especialmente os cheiros.
Uso frequentemente tampões no nariz e nos ouvidos quando saio à rua.
Mantém-me calmo.
Acho os humanos interessantes, mas tenho dificuldade em compreendê-los.
Penso, contudo, que te vou compreender e confiarei em ti.
Pareces-me muito alegre e acho que cheiras a camarão,
porque sei que a Austrália tem muito camarão.
Consegues ler depressa?
Treinei para ler duas páginas em simultâneo -
um globo ocular para cada página.
Agora tenho de ir
apesar de ainda não te ter falado sobre o meu sétimo emprego,
numa fábrica de preservativos.
Responde-me depressa.
O teu amigo americano, Max Jerry Horowitz.
PS. Procura a foto que tirei num daqueles quiosques e enviei.
PPS. Obrigado pelo "Cherry Ripe"
e fico contente por gostares tanto de chocolate quanto eu.
Nunca comi leite condensado açucarado,
mas vou experimentar esta semana.
PPPS. Nunca usei um preservativo.
*** gezunterheyt. (Vai com saúde)
Max esperva que Mary escrevesse novamente.
Ele sempre quis um amigo.
Um amigo que não fosse invisível, um animal ou um boneco de borracha.
Ele contou as estrelas e imaginou quantos dias, horas e minutos
demoraria até a sua carta chegar à Austrália.
Vera não estava nada entusiasmada...
Aaaarrgh!
...nada entusiasmada mesmo.
Este doido não iria ser amigo por correspondência da sua filha, pensou.
Já havia desgraças suficientes no mundo.
Mary ia chegar da escola daí a uma hora -
tempo suficiente para outra chávena de chá e um pouco de cricket para acalmar os nervos
e dissipar a lembrança da carta de Max da sua memória agitada.
Sim, ele está fora. Inacreditável. 14. Inglaterra 7/150.
Parem! Esperem!
Ei, rapazes, têm espaço para mais um saco?
Claro, Sra Dinkle. atire para cá!
Boa, Kevin!
Aaaarghhh!
Vá lá, Vera. Temos mais sacos para recolher!
Ooh. Humm.
Mary, este é o lixo todo?
É!
'Té logo, boneca!
Jesus Santíssimo.
Uooouu!
Apesar da carta de Max cheirar a cabeças de peixe e cascas de laranja,
Mary sorveu as suas palavras como se fossem um prato de sopa de letras.
Já não ficava tão entusiasmada
desde que o Vovô Ralph achou uma moeda enfiada no seu nariz.
Ela respondeu imediatamente
num pedaço de papel de embrulho que roubou a umas costeletas.
Caro Max, fiquei tão contente por teres respondido.
Acho que os meus pais não gostam de ti por isso, a partir de agora,
envia as coisas ao meu vizinho Len Hislop
para Lamington Drive, nº 26 Monte Waverley.
Ele é velho e não tem pernas.
Foram-lhe arrancadas à dentada na II Guerra Mundial
quando algumas pessoas japonesas o guardaram numa jaula sobre piranhas.
Piranhas são peixes dourados com dentes.
Ele tem medo de vir cá fora, que é uma doença chamada homofobia.
Ele começou a dar-me 50 cêntimos por semana para lhe levar o correio.
Estou a poupar para comprar um castelo na Escócia e casar com um Earl Grey.
Tu apanhas "Os Noblets" na América?
Bem, o meu Noblet preferido é o Noblet Vaidoso.
Ele quer ser amigo de toda a gente, até dos rapazes!
Na tua carta dizias que não tinhas amigos.
Bem, eu também não tenho.
A-ha!
Ontem na escola, Bernie Clifford fez chichi na minha sandwich de carne enlatada
e chamou-me "cara de cocó" por causa da minha marca de nascença.
Quem me dera poder retirá-la como se fosse um penso.
Ele também se riu por eu não ter botões.
O Ethel arrancou-os.
e a mamã não conseguiu passar a linha pela agulha porque tinha estado a testar o Xerez
Em vez disso utilizou molas da roupa.
Quando cheguei a casa, trepei para o meu sítio secreto até à hora de jantar.
Os outro miúdos também se riem do meu penteado.
O papá tem de cortar o meu cabelo porque a mamã diz que
os cabeleireiros vendem o nosso cabelo a chineses
que enchem colchões com ele.
A minha professora, a D. Pendergast, diz que eu podia sorrir mais.
Disse isso à minha mãe e ela desenhou um grande sorriso na minha cara.
Acho que a D. Pendergast já não gosta de mim.
É melhor eu ir. As minhas lágrimas estão a esborratar as palavras.
A tua amiga na Austrália, Mary Daisy Dinkle.
PS. Alguma vez foste gozado? Podes ajudar-me?
PSS. Nunca fiz Asa-Delta nem fui "comn-ista"
mas adorava ter um disco voador e a tua receita para cachorros de chocolate.
PSSS. Vou enviar-te um chocolate Australiano, um pompom que fiz
e um bolo chamado lamington, que era suposto eu comer ao almoço.
Alguma vez foste gozado?
Ooooooooooaaaahhhh!
A carta de Mary despoletou recordações
Max tinha-as enterrado bem fundo nos sapatos.
Já o encurralámos. Ei, judeuzeco, vais pagá-las...
Toma lá, judeuzeco, judeuzeco...
E, como habitualmente, lidou com isso da única forma que sabia.
E 36 cachorros de chocolate depois...
...e depois de apenas 2 horas de sono,
O esgotamento de Max desvaneceu-se e uma ideia surgiu no seu cérebro.
Cara Mary Daisy Dinkle,
Obrigado pela tua carta, pelo chocolate, pelo lamington e pelo pompom.
O chocolate chegou esmagado, por isso bati os pedaços com leite e gelado
e agora estou a beber o batido.
Após muito reflectir, penso que tenho a solução para o teu problema.
Diz a Bernie Clifford que a tua marca é feita de chocolate,
o que significa que, quando chegares ao céu
serás responsável por todo o chocolate.
Isto é uma mentira, claro - Não gosto de mentiras -
mas neste caso acho que vai dar jeito.
Quem me dera ser responsável por todo o chocolate
mas, claro, não posso porque sou ateu.
A minha vizinha Ivy também é ateia.
Ela não fala muito, mas faz-me uma sopa muito boa aos Domingos à noite.
Ela é parcialmente cega
e às vezes encontro cabelo seu na sopa. Blargh!
Não lhe digo, pois o Dr Bernard Hazelhof diz que seria falta de educação.
Aqui está uma lista do que como nas outras noites.
Segundas - Pastel de Batata Glicks,
Terças - Pudins de *** da Yiddels,
Quartas - Douradinhos do Capitão Salgadinho,
Quintas - crepes de queijo Yentls
e Sextas - pedaços de frango.
Aos Sábados à noite crio as minha próprias receitas.
A semana passada inventei Hamburgers de esparguete enlatado.
Receitas são como equações matemáticas.
O Dr. Bernard Hazelhof disse-me que não deviamos pesar mais que o nosso frigorífico
e nunca comer nada maior que a nossa cabeça.
Uma vez comi uma melancía maior que a minha cabeça
mas não de uma vez só.
Tens algumas sugestões para perder peso?
As minhas reuniões dos 'Super-comedores Anónimos' parecem não resultar
fico apenas nervoso.
Seria bom se existisse uma "Fada da Banha".
Seria como a Fada dos Dentes mas chuparia a tua banha.
Ivy diz que é só "um bocadinho" cega mas eu acho que ela é muito cega.
Ela devia arranjar uma bengala como as outras pessoas deficientes visuais.
Devia afiar a ponta
e apanhar lixo ao mesmo tempo.
Acho que vou escrever ao Presidente da Câmara e sugerir-lhe isso.
Ele vai ficar muito impressionado.
Ivy diz que não precisa de bengala porque tem um olfacto apurado.
Diz que me conseguia encontrar mesmo com os olhos agrafados.
Diz que cheiro a alcaçuz e a livros velhos.
Acho que ela cheira a remédio para a tosse e a urina.
Nunca lhe disse isto
pois o Dr Bernard Hazelhof disse que também seria falta de educação.
As pessoas pensam muitas vezes que sou insensível e rude.
Não compreendo como é que ser-se honesto pode ser... inapropriado.
Talvez seja por isso que não tenho muitos amigos
excepto tu, claro.
Um amigo verdadeiro é um dos meus três objectivos de vida.
Os outros dois são coleccionar todos os Noblets e ser dono de todo o chocolate.
O Dr Bernard Hazelhof diz que é bom ter objectivos,
mas não estúpidos como os meus.
Já não tenho mais coisas para te contar.
Por favor, escreve em breve.
O teu amigo na América, Max Jerry Horowitz.
PS. Não te preocupes por não sorrires.
A minha boca raramente sorri,
mas isso não quer dizer que não esteja a sorrir na minha cabeça.
PPS. Por favor procura o disco voador que enviei,
um chocolate "Pop Rocks", que deves acompanhar com cola,
e um desenho de uma tartaruga de um dos meus livros da National Geographic.
PPPS. Sabias que as tartarugas conseguem respirar pelo ***?
Caro Max,
Quando disse a Bernie Clifford
Que iria ser responsável por todo o chocolate no Céu e ele não ia ter nenhum,
chorou.
também escondi um bocado de cocó de cão no seu sítio do monte de areia.
Os teus conselhos foram óptimos e arranjei um emprego a distribuir panfletos
para poupar dinheiro e ir visitar-te.
Lamento que sejas gordo.
A mamã diz que eu também sou gorda e vou ficar uma novilha quando crescer,
acho que é um tipo de vaca.
Talvez devessemos comer apenas coisas que começam pela letra do dia.
às Segundas (Mondays)
batidos (milkshakes), marshmallows e... mostarda.
Oooh!
Nos meus anos, a minha mãe fez um bolo e o meu pai deu-me uma câmara fotográfica.
Espero que gostes das fotos que enviei.
A primeira é o Ethel, que comeu umas fitas de Natal.
A seguinte sou eu
depois de ter comido o Chocolate "Pop Rocks" com a cola, como disseste.
a seguinte é Len.
Continua a tentar vencer o medo de sair à rua e conquistar a sua homofobia.
A seguinte é a do pai no seu barracão,
e depois uma das vezes em que cobri a mãe
enquanto dormia nos seus autocolantes que a ajudam a deixar de fumar.
A seguir, foi quando prendi o cabelo na mola saltitona.
Depois, é uma das vezes em que o Sonny desenterrou a esposa Cher.
E, finalmente, uma foto do meu outro vizinho Damian Popodopolous.
Ele é grego e cheira a líquido da louça de limão
e a sua pele é suave como o fundo de uma colher.
A mãe diz que ele é um monhé e gagueja e nem consegue pronunciar o seu sobrenome.
Ela diz que lhe temos de dar calduços
para fazer sair as palavras.
P-P-P-P... Popodopolous.
Gostava que namorasse comigo, que estivéssemos apaixonados e sexássemos
atrás do barracão das bicicletas, como me disse a Katherine Ramsay.
Ela disse que é quando duas pessoas ficam em pelota
e se esfregam uma na outra para fazer bebés.
Disse-lhe que era uma mentirosa e ia para o inferno queimar como uma torrada
porque os bebés vêm nos copos de cerveja
e de ovos postos por coelhos e de freiras e de "prosti-tubas".
Ela disse que as senhoras engravidam
e cozinhas bebés nos seus estômagos durante dois anos
até saltarem das suas "***-ia-nas" com sangue e esparguete enlatado.
Tu tens namorada, Max, ou algumas esposas?
Já sexaste?
O Dia dos Namorados está perto
e quero dar uma prenda ao Damian para ele me amar.
Consegues explicar o amor e como é que posso ser "amorada"?
Mais uma vez a carta de Mary despoletou um ataque de ansiedade.
Max não sabia nada sobre o Amor.
Era tão estranho para ele como fazer mergulho
E ele tinha um histórico espantoso de mal-entendidos.
Num Dia de Namorados
Ele deu a Zelda Glutnik uma prenda que, tinha a certeza, era apropriada.
A única companhia que alguma vez tinha aquecido a cama de Max
tinha sido a sua botija de água quente.
Romance e amor
era uma linguagem misteriosa da qual já tinha desistido.
Se ao menos a Mary tivesse perguntado como é que funcionava uma torradeira
ou pedido para lhe explicar a Teoria do Caos.
Se ao menos houvesse uma equação matemática para o amor.
Continuou a comer e a pensar.
Mas o amor não era como o cubo mágico de Max. Não tinha solução.
Independentemente da forma como fizesse a análise, o resultado era sempre negativo.
Desaparece, palhaço!
Ele sentia o Amor, mas não conseguia expressá-lo.
A sua lógica era tão estranha para ele como... uma sandwich de salada.
As estrelas faziam mais sentido.
12, já respondeu à chamada? Escuto.
A ansiedade e o stress eram demasiados.
A inescrutabilidade do Amor finalmente ganhou e o cérebro de Max desistiu.
Foi-lhe diagnosticada uma depressão severa e obesidade mórbida
e passou os 8 meses seguintes internado e acamado.
Foi marinado num cocktail de drogas
e executou os procedimentos 'terapêuticos' do costume.
Entretanto, Mary especulava e esperava.
Talvez a máquina de escrever de Max tivesse ficado sem tinta.
Talvez a América tivesse ficado sem tinta.
Talvez tivesse sido comido pelos seus animais.
Talvez fosse ela.
seria demasiado exigente, demasiado enfadonha, demasiado... feia?
Cheia de raiva, confusa e odiando-se,
Mary tentou apagar o amigo da memória para sempre.
Max recuperou.
E a vida estava equilibrada, segura e simétrica novamente.
Mas Mary ainda pairava no seu pensamento.
Parte dele queria responder imediatamente.
A outra parte não queria ficar novamente doente.
Pelos menos ainda restava o Sr. Ravioli como amigo.
Era uma opção mais segura.
Imaginou o que estaria Mary a fazer nesse momento.
Mas ela estava tudo menos satisfeita
e lutava sozinha, poupando o seu dinheiro para dias difíceis.
A vida continuou normalmente para Max
e apesar de ter optado pela ordem e estabilidade,
a desgraça nunca andou longe.
Por sorte, as acusações por homicídio foram retiradas
porque foi rotulado deficiente mental
e não ter motivo aparente para assassinar um mimo...
Uup.
...ao contrário da maioria das pessoas.
Desde então, Max acalmava-se de outra forma
e as coisas regressaram à normalidade
até ao seu 48º aniversário, quando finalmente saiu a sua chave.
Benvindos ao Totoloto de Nova York
e esta é a chave vencedora desta noite -
3, 5,
6, 9,
11 e o 12!
Max ficou grato pelo seu novo estado de boa saúde
e comprou um fornecimento de chocolate suficiente para a vida
e toda a colecção de Noblets.
Dois dos seus objectivos de vida foram realizados.
Mas ainda lhe restava muito dinheiro
então decidiu dá-lo a Ivy...
...que ficou igualmente muito grata...
...até ter saído a sua chave.
Ivy deixou tudo em testamento ao abrigo dos gatos local,
cujo dono realocou o seu generoso donativo para a sua conta pessoal,
para novos seios da esposa, um Ferrari e gasolina para chegar ao México.
Apesar de ter atingido os objectivos de vida,
Max ainda se sentia incompleto.
O Sr Ravioli já não lhe enchia as medidas
e parecia mais interessado nos seus livros de auto-ajuda.
Mary tinha dado a Max um gostinho de verdadeira amizade
e, simplesmente, não havia comparação.
Ela também tinha saudades dele,
mas já não poupava para o visitar.
Agora poupava por outro motivo.
Um dia o Sr Ravioli levantou-se, saiu e nunca mais voltou.
Max procurou o conselho do Dr Hazelhof.
Ele disse a Max que a verdadeira amizade via-se com o coração,
e não com os olhos.
Já era altura de escrever a Mary e revelar a sua verdadeira essência. Verrugas e tudo.
Max compreendeu.
Cara Mary Daisy Dinkle,
preciso de te dizer uma coisa
que explicará porque é que não tenho escrito.
Cada vez que recebia uma das tuas cartas, tinha um grave ataque de ansiedade.
Isto acontece porque, enquanto estive internado num sanatório recentemente,
diagnosticaram-me uma coisa nova chamada síndrome de Asperger,
que é uma deficiência, generalisada, do desenvolvimento neurobiológico.
Prefiro o diminutivo "Aspie".
Vou-te listar algumas características de um Aspie.
No.1 - Acho o mundo muito confuso e caótico
porque a minha mente é muito racional e lógica.
2 - Tenho dificuldades em ler expressões faciais.
Quando era mais novo, fiz um livro para me ajudar quando ficava confuso.
Ainda tenho dificuldades com algumas pessoas.
Ivy era difícil de compreender por causa das rugas
e porque as suas sobrancelhas são falsas.
3 - Tenho uma caligrafia má,
sou hipersensível...
...desastrado
e posso ficar muito preocupado.
4 - Gosto de resolver problemas. Ivy disse que isto é bom.
E, finalmente, No.5 - Tenho dificuldade na expressão de emoções.
Dr Bernard Hazelhof diz que o meu cérebro é defeituoso
mas, um dia, vai haver uma cura para a minha deficiência.
Não gosto quando ele diz isto.
Não me sinto incapaz, defeituoso ou a precisar de cura.
Gosto de ser um Aspie.
Seria como tentar mudar a cor dos meus olhos.
No entanto há uma coisa que gostaria de mudar.
Gostava de conseguir chorar em condições.
Espremo, espremo, mas não sai... nada.
Choro quando corto cebolas, mas isso não conta.
Enfim. Gostas da palavra "Kumquat"?
É um tipo de fruta.
tens uma palavra favorita?
O meu top 5 são unto, zangão,
Vladivostok, banana
e testículo.
Também inventei algumas palavras -
"confuzado", que é estar confuso e intrigado ao mesmo tempo,
"sueve", que é um cruzamento entre sujidade e neve,
e "esmaguirias"...
...que são as mercearias esmagadas que encontramos no fundo dos sacos.
Enviei uma carta às pessoas do Dicionário Oxford
a pedir para incluirem as minhas palavras
mas ainda não tive notícias.
Está na hora de ir para a minha reunião dos 'Super-comedores Anónimos'.
Há lá uma mulher chamada Marjorie Buttersworth
que me deixa confuzado.
Beija-me sem a minha permissão
portanto decidi que esta noite vou esfregar cebolas nos meus sovacos para a repelir.
O teu amigo na América, Max Jerry Horowitz.
PS. Por favor procura
umas formigas cobertas de chocolate que encontrei na mercearia.
PPS. Não aconteceu nada de especial desde a última vez que escrevi
excepto ter sido acusado de homicído, de ter ganho o Totoloto e da morte de Ivy.
Mary estava excitada. Max tinha finalmente escrito
e, de repente, teve uma ideia fabulosa.
A-ha!
A amizade de Mary e Max tinha ressuscitado
e as suas lágrimas foram a melhor prenda que alguma vez tinha recebido.
dentro da cabeça de Max, o seu cérebro sorria.
Carregadas de chocolates de formas estranhas,
as suas cartas voavam ligeiras e pesadas entre continentes.
Max aprendeu a ler as cartas de Mary com cautela
e ao mais pequeno sinal de tensão, parava
tomava a sua medicação e acalmava os nervos.
Passava a ferro cada carta, laminava-a e arquivava-a num lugar especial -
o que também lhe acalmava os nervos.
Gostava de lhe responder às questões e resolver os problema, do tipo -
As ovelhas encolhem quando chove?
Porque é que os velhotes usam as calças tão subidas?
As galinha ficam com pele de galinha e porque é que o cotão do umbigo é azul?
Haverá Noblets no Céu?
E se andares num taxi andar de marcha atrás, o motorista tem de te pagar?
Por seu lado, Mary apreciava simplesmente saber da vida fascinante de Max -
quantas pessoas a fazer lixo tinha ele contabilizado...
...como é que tinha morrido o último Henry...
...e novas receitas de galinha que ele tinha inventado.
Um mimava o outro
e, à medida que Mary crescia,
Max alargava -
a sua amizade a ficar mais forte que a cola dos Noblets de Mary.
Embora Max tivesse encontrado conforto em Mary,
ainda achava o resto do mundo confuso.
E não conseguia compreender
como é que era visto como 'o esquisito'
enquanto as restantes pessoas eram consideradas normais.
Os humanos eram infinitamente ilógicos.
Porque é que desperdiçavam comida quando havia crianças famintas na India?
Porque é que desbravavam a Floresta Virgem se necessitavam de oxigénio?
E porque é que se faziam os horários dos autocarros se nunca cumpriam as horas?
Ele concordava com o seu físico favorito quanto ao haver apenas 2 infinitos -
o universo e a estupidez humana.
E para Mary, apesar de Max a encher de confiança...
Em cheio!
...o seu mundo estava longe da perfeição.
A garra do amor estava a sufocá-la.
às 16:59h, do dia 8 do 8 de 1988...
...Noel Norman Dinkle colocou o seu último fio
e, após 40 anos e 40 milhões de sacos de chá, reformou-se.
Para comemorar, Noel anunciou que se estava a reformar da taxidermia
e enveredava pela detecção de metais.
Mas, infelizmente, não foi um hobby que tivesse durado muito.
No seu testamento, Noel deixou algum dinheiro a Mary
e ela decidiu ir para a universidade estudar doenças mentais,
ansiando aprender mais sobre o seu amigo.
Mary era tão popular na universidade como tinha sido no liceu.
Damian também entrou para lá, almejando ser actor.
Olá, M-M-Mary.
Oi... olá!
Isso foi mesmo e-e-engraçado!
Ei, Damian, as rosas da tua mãe estão altamente!
Oh, o-o-o-obrigado, Mary.
Um, M-Mary, posso dizer-te uma coisa?
claro, lindo!
Um, um, tu tens c-c-c-c-cóco de cão no teu sapato.
Caro Max,
Tenho sido uma idiota.
Desperdiceio o meu dinheiro todo inutilmente
quando deveria estar a poupá-lo para te ir ver.
sei que o amor te incomoda portanto não vou falar sobre isso.
O que quero dizer é que, obviamente, o amor não é para mim.
Espero que estejas bem e que disfrutes os cigarros de chocolate que enviei.
Beijinho. Mary.
Oh, devias ter vergonha!
- Vamos lá, filhota. Vamos embora. - Oh, Mãe...
Disse-te para nunca falares com desconhecidos.
A morte repentina de Noel tinha deixado Vera cheia de remorsos e culpa
e ela lidou com isso da única forma que sabia.
Caro Max,
O nosso casamento foi exactamente como tinha sonhado,
compensando o ano horrível que tive.
Apesar dos convidados serem todos família ou amigos de Damian,
Senti-me muito bem-vinda.
Damian é tão perfeito. Ele até fez o meu vestido de noiva.
E para a nossa lua-de-mel,
levou-me a Mykonos - a sua ilha grega favorita.
Andei de burro
e encontrei a prenda perfeita para Len.
Pobre Len, ainda luta com a sua agorafobia.
Aaaaahhhh!
Eu e Damian somos tão parecidos.
Ele até tem um amigo correspondente que vive numa quinta na Nova Zelândia.
Mary... M-M-M-Mary.
Oooh.
Mary transbordava auto-estima
e a sua auto-confiança era quase insuportável.
Na universidade, brilhou
e tomou para si o encargo de livrar o mundo das doenças mentais.
Defendeu uma tese sobre a síndrome de Asperger
e utilizou Max como seu caso de estudo.
Os seus professores ficaram profundamente impressionados
e o seu trabalho chegou longe.
Em breve, editoras faziam fila para imprimir a sua visão única
e, por altura do seu 25o aniversário, milhares de cópias estavam prontas a enviar
Caro Max,
Tenho muito orgulho em enviar-te
a primeiríssima cópia do meu livro acerca da tua incapacidade
e a esperança que temos de, um dia, a curar.
Ainda mais entusiasmante
é estar a uma semana de ir ter contigo e celebrar a ocasião.
Também te vou dar metade dos direitos.
A amiga que te adora, Mary.
PS. Envio no envelope amendoas suiças cobertas de chocolate.
Max não recebeu as notícias com grande entusiasmo -
mesmo nenhum entusiasmo.
Cara Mary Daisy Dinkle,
Não me consigo expressar claramente neste momento
Por isso vou listar as emoções por ordem de intensidade -
dor, confuzadação, traição, desconforto, inquietude e mijaneira.
Esta última não é propriamente uma emoção,
mas achei que deverias saber, de qualquer forma.
Com a mala pronta para partir rumo a Nova York, Mary despediu-se de Damian.
Não se sentia tão entusiasmada desde que encontrara um Noblet na sarjeta.
Mas o seu entusiasmo depressa perdeu consistência
como um chocolate ao sol.
Mary afundou-se lentamente numa poça de depressão, odiando-se
e cozinhando Xerez.
A única cor restante na sua vida continuava a ser Damian,
ao alcance da mão, mas tão distante como a Lua.
Ela perdeu interesse no mundo e este perdeu o interesse nela
à medida que uma terrível aparição começava a ensombrar a a sua vida.
Começou a passar as noites a fazer pompons
e a comer *** de micro-ondas.
A cada dia, com determinação e vergonha,
Mary arrastava-se, com esperança, até à caixa de correio,
para, mirrada e discreta, tornar a casa.
Minha querida Mary,
quando leres isto, estarei num avião para a Nova Zelandia
para iniciar uma nova vida.
Provavelmente nem te apercebeste que tinha feito as malas.
Apaixonei-me pelo meu correspondente, Desmond,
e vou viver para a sua quinta de criação de ovelhas.
Tem sido difícil ver tornares-te um resto da pessoa que um dia amei.
A tua pesquisa sobre doenças m-m-mentais tem sido admirável
mas a tua luta idealista para as tratares não tem sentido.
Mary, tens de compreender q-q-que não és um creme de beleza mágico
podes suavisar o mundo para o livrares das rugas.
Amo-te, Mary,
mas amo mais o Desmond.
Espero que um dia esta ferida sare e possamos ser amigos.
O teu lamentável, Damian.
Aaaarghh!
Caro Presidente Ridiculani,
na Segunda-Feira contei 27 pessoas a deitarem fora, ilegalmente, beatas.
Gostaria que a multa fosse aumentada
para, no mínimo, 1 milhão de Dólares como factor dissuasor efectivo
e ficaria contente...
Obrigado.
Perdão.
Cara Mary,
envio-te a minha inteira colecção de Noblets
como sinal do meu perdão.
Quando recebi o teu livro, as emoções...
No regresso a casa, Max sentou-se a contar estrelas.
Sentiu-se completo -
O mundo estava novamente equilibrado.
# When I was just a little girl # (quando era menina)
# I asked my mother, what will I be? # (perguntei à minha mãe o que seria?)
# Will I be pretty, will I be rich? # (serei bonita, serei rica?)
# Here's what she said to me... # (E a resposta dela foi...)
# Que sera sera #
# Whatever will be will be # (O que vier a ser, será)
# The future's not ours to see # (Não podemos prever o Futuro)
# Que sera sera #
# Que sera sera #
# Whatever will be will be #
# The future's not ours to see #
# Que sera sera #
# What will be will be #
# Que sera sera #
Ah!
Len ganhou o dia e após 45 anos
conquistou, finalmente, a sua agorafobia.
Estúpido!
Cara Mary,
envio-te a minha inteira colecção de Noblets
como sinal do meu perdão.
Quando recebi o teu livro, as emoções no meu cérebro
pareciam estar numa máquina de secar, chocando umas com as outras.
Senti uma dor semelhate à que senti quando agrafei os meus lábios.
Au!
Perdoo-te porque não és perfeita.
És imperfeita, e eu também.
Todos os humanos são imperfeitos,
até o homem que faz lixo à porta do meu apartamento.
Quando era novo, queria ser qualquer coisa, menos eu próprio.
Dr Bernard Hazelhof disse que se eu estivesse numa ilha deserta
teria de me habituar à minha companhia -
apenas eu e os côcos.
Disse que eu teria de me aceitar, com verrugas e tudo -
e que não podemos escolher as nossas verrugas.
São parte de nós e temos de viver com elas.
Podemos, no entanto, escolher os nossos amigos
e estou contente por te ter escolhido.
Dr Bernard Hazelhof também disse
que a vida das pessoas era como um longo passeio de rua.
Alguns estão bem calcetados. Outros, como o meu,
têm fendas, cascas de banana e beatas de cigarros.
O teu passeio é como o meu, mas, provavelmente, com menos fendas.
Espero que, um dia, os nossos passeios se encontrem
e possamos partilhar um lata de leite condensado.
És a minha melhor amiga. És a minha única amiga.
O teu correspondente americano, Max Jerry Horowitz.
PS. Comecei num emprego ideal numa empresa de pesquisa de mercado.
Tudo o que tenho de fazer é comer coisas e assinalar opções.
Max?
Max?
Max?
Olá?
Max, somos nós!
Chegámos!
Oh, Max?
Max faleceu em paz nessa manhã
após terminar a sua última lata de leite condensado.
És aminha melhor amiga. És a minha única amiga.
Cheirava a alcaçuz e a livros velhos, pensou para si,
enquanto as lágrimas escorriam dos seus olhos
da cor de poças lamacentas.