Deixe-me falar um pouco sobre o liberalismo,
que é um conceito bastante complicado, na minha opinião.
É certo dizer, com certeza, que o liberalismo cresceu no
ambiente intelectual formado pelo empirismo e pela rejeição
à autoridade, e confiança na evidência
dos sentidos e aí por diante.
Entretanto o liberalismo passou por uma evolução bastante complexa
como filosofia social ao longo dos anos.
Se voltarmos aos clássicos, pelo menos o que eu considero
um clássico, digamos por exemplo, os limites de Humboldt
às ações do estado, que inspiraram Mill e
é um conceito realmente libertário - liberal clássico, se você preferir.
O mundo do qual Humboldt estava falando, e que
em parte se tratava de um mundo imaginário mas o mundo para o qual ele estava
desenvolvendo sua filosofia política foi
um mundo pós-feudal mas pré-capitalista.
Quer dizer, era um mundo em que não havia nenhuma
grande diferença entre indivíduos em termos do poder à sua
disposição e o que eles controlavam, digamos.
Mas havia uma tremenda disparidade entre os indivíduos,
por um lado, e o estado por outro lado.
Consequentemente, essa era a missão de um liberalismo que estava
preocupado com os direitos humanos, e a igualdade dos indivíduos
e assim por diante -
era tarefa do liberalismo dissolver o enorme poder
do estado e que constituía uma enorme ameaça autoritária
às liberdades individuais.
A partir daí, você desemboca em uma teoria liberal clássica
do tipo de Humboldt ou de Mill, por exemplo.
Bem, é claro, que é pré-capitalista.
Ele não podia conceber uma era na qual uma corporação
seria considerada um indivíduo, digamos.
Ou na qual enormes disparidades no controle
dos recursos e da produção criariam desigualdade
entre os indivíduos de maneira avassaladora.
Agora, neste tipo de sociedade, usar a visão Humboldtiana
é um tipo muito superficial de liberalismo.
Porque enquanto a oposição ao poder de estado em uma era
de tamanhas diferenças se conforme às conclusões Humboldtianas,
ela não o faz pelas mesmas razões.
Quero dizer, suas razões nos levam a conclusões bastante diferentes
neste caso, sabidamente, creio eu, suas razões levam à conclusão de que
nós devemos dissolver o controle autoritário
sobre os recursos de produção que nos leva a tamanha desigualdade
entre os indivíduos.
De fato, acredito, pode-se desenhar uma linha clara que ligue
o liberalismo clássico a um tipo de socialismo libertário
o que, acredito, pode ser considerado uma espécie de adptação
do raciocínio básico do liberalismo clássico
usado em uma era social bastante diferente.
Agora se nós voltarmos aos tempos atuais, aqui o liberalismo
assumiu uma direção bastante estranha, se você pensar em sua história.
Hoje o liberalismo é essencialmentea teoria do
capitalismo de estado.
Da intervenção do estado em uma economia capitalista.
Bem, isso pouco tem a ver com
o liberalismo clássico.
De fato, o liberalismo clássico hoje é conhecido como
conservadorismo, acredito.
Mas esta nova visão, creio, é realmente, na minha visão
pelo menos, uma concepção bastante autoritária.
Quer dizer, onde se aceita um certo número de centros
de autoridade e de controle -
o estado por um lado, aglomerações de poder privado
por outro lado, todos interagindo com os indivíduos
como engrenagens maleáveis nesta máquina bastante apertada
que pode ser chamada democrática.
Mas dada a verdadeira distribuição de poderes, ela está
muito longe de ser realmente democrática e na verdade sequer podendo sê-la.
Então minha convicção sempre foi a de que
para alcançar os ideais do liberalismo clássico
pelas razões que lhe deram origem -
em uma sociedade tão diferente, nós devemos seguir
em uma direção diferente.
É superficial e equivocado aceitar as conclusões
que foram feitas em uma sociedade diferente e não
considerar os motivos que levaram a essas conclusões.
O raciocínio, creio eu, é fundamental.
Eu sou liberal clássico neste sentido.
Mas eu acredito que isso me leva a ser um tipo de anarquista,
um anarco-socialista.